quarta-feira, 1 de abril de 2009

A etiqueta no dedo do pé!


Aqui dentro tudo é escuro e frio. Não sei porque é que aqui estou mas a verdade é que tudo me é estranho. Nunca aqui estive e não consigo descobrir que sítio misterioso é este. De pés descalços vou caminhando por cima daquela tijoleira meia esbranquiçada. Abro a porta com que me deparei e quando descubro o que está do outro lado fico petrificada. Diante dos meus olhos enxergo bancadas de pedra com uma torneira à cabeceira e um ralo ao fundo, utensílios de alúminio e ferro e uma luz direccionada para aqueles sítios. Mais adiante, estão montes de portas. Portas umas por cima das outras. Portas de arcas frigoríficas onde inúmeros cadáveres estão guardados para depois serem sepultados. A curiosidade continua. Afinal ainda não percebi o motivo de me encontrar numa morgue. Continuo a caminhar por aquele sítio gelado até que reparo que uma porta faz reflexo. Lentamente, vou-me aproximando dela mas as gotinhas de sal já escorrem. Não são só os meus pés que estão descalços como também o resto do meu corpo está despido. A imagem que aquela porta reflecte não é bem nitida mas dá para perceber perfeitamente que o meu corpo está bastante mal tratado. Continuo a vaguiar até que volto, novamente, à sala onde se encontram todas aquelas bancadas. De início não tinha reparado, mas lá ao fundo encontram-se corpos estendidos sobre as pedras. Com receio, dirijo'me até lá. Os pés estão descobertos e, por isso, dá para reparar nas etiquetas onde estão escritos os nomes das vítimas. Aqueles nomes não me dizem absolutamente nada excepto o daquele corpo que se encontra na bancada junto à janela. Retiro o pano branco que o cobre e fico espantada. A jovem, supostamente, devia ter morrido de choque hipovolémico já que os seus pulsos e os seus tornozelos estavam cortados. Estava tão interessada em saber onde estava que não reparei nos golpes que tinha nos pulsos nem nos tornozelos e a porta que mostrava o meu reflexo fazia com que eu não me apercebesse que o meu corpo estava deformado devido à auto'mutilação. Voltei a tapar'me e virei costas. As gotinhas de sal caíram com mais força e quando já ia a meio do caminho olhei, com curiosidade, para a etiqueta. Por baixo do meu nome também estava escrito:

" A prova da fraqueza está à vista"

De repente, abriram a porta da rua e eu a partir desse momento deixei de me sentir, de me ouvir... Deixei de existir. Apesar de tudo, reparei que tinha sido o meu pai quem tinha aberto a porta.