segunda-feira, 30 de junho de 2008

A linha do horizonte!



Passado meses e já estando habituada à escuridão uma luz vai'se reflectindo bem lá ao longe. Não tenho qualquer tipo de interesse de saber donde é que vem e para que é que vem. Já estou mais que habituada ao cheiro da terra húmida, à aspereza da minha pele, aos cortes que me são frequentes no corpo e ao odor a sangue e, consequentemente, a cadáver. Ao longo de todo este tempo fui'me consciencializando que não servia absolutamente para mais nada a não ser para fertilizar a terra e servir de alimento aos insectos que necessitam. Perdi o que me era importante mas sei que a culpa não foi totalmente minha. Não poderia reagir de outra maneira pois não estaria a defender aquilo que mais venero. A partir daí fui'me habituando a descer cada vez mais; a não ter liberdade nem vontade própria e a deixar de viver para ser vivida. Se hoje ainda resta alguma coisa de mim não é pelo meu esforço mas sim por aqueles que sempre me apoiaram. Agora, sinto'me bem aqui neste meio obscuro. Já tudo me é familiar e os insectos quase que me entendem. Confesso que temos uma relação bastante agradável pois dou'lhes aquilo que eles querem e eles, por sua vez, deixam'me em paz. Sim! É apenas isso que quero. Paz e sossego! Quero viver os meus últimos tempos sem qualquer tipo de constrangimento. Quero partir feliz para poder continuar a sê'lo. A luz continua a ser mais forte e sinto que isso não é normal. Aquele reflexo costuma ser habitual de seis em seis meses mas agora está a perdurar demasiado tempo. O que é que estará mal agora? Será que nunca mais vou poder ficar sozinha e descansada? Sinceramente, já estou farta de tudo isto e não percebo porque é que não morro de uma só vez. De repente algo me diz que ainda não é tempo e para me levantar. Penso para mim que não consigo fazê'lo porque as minhas pernas já não mo deixam fazer e também não tenho espaço. Passado mais algum tempo uma brisa suave passa'me pelo rosto, uns graos de areia voam e o cheiro a maresia é'me constante. Onde será que estou? É então que abro os olhos e reparo o quanto bonito é o céu e o mar. Páro breves instantes a olhar para a junção dos dois no horizonte e penso porque é que o mesmo não acontece comigo. Com isto, as gotinhas de sal acabam por escorrer e o vazio sente'se no coração. Sento'me naquela areia fria que não pára quieta e de repente algo se junta a mim. Não sei o que é mas faz com que me sinta segura. Ficamos ali sentados bastante tempo sem qualquer tipo de movimento. Agora... Agora vejo que uma nova oportunidade surgiu e faço questão de a agarrar com todas as minhas forças. «3