
O sorriso desenhavasse naturalmente no meu rosto e as nossas mãos uniam'se com o maior dos amores. Tocavas'me suavemente e eu sentia'me importantíssima para ti. Quando as gotinhas de sal escorriam pela minha cara tu lambias'mas e dizias para enfrentar todos aqueles problemas. Dizias que estavas ao meu lado e que era a tua menina. Lembro'me perfeitamente de tocares no meu corpo e perguntares porque tinha todos estes golpes, todas estas cicatrizes e todos estes ferimentos. Disse'te apenas que eram coisas da vida mas que agora iam passar. Os segundos iam sendo marcados pelo tic-tac do relógio que estava pendurado ao fundo da sala e tu ias sentindo todo o meu corpo ao seu som. À medida que o percorrias fazias força para que o sangue não escorre'se e não sujasse o sofá e, ao mesmo tempo, dizias'me ao ouvido que ias curar todos aqueles golpes. Agora? Agora olho para mim e ainda tenho as marcas das tuas unhas cravadas na minha pele. Aquele nosso último momento quase que era o meu último momento. De repente, deixaste de querer limpar'me as lágrimas salgadas e começaste a morder'me como se eu fosse um naco de carne que comes ao jantar. Não quiseste mais lamber as minhas gotinhas de sal com a tua língua e preferiste marcar os teus dentes no meu corpo. Talvez fosse mais um dos tantos aperitivos que tens, mas acredita que todas estas marcas foram sentidas como únicas. Quando acabaste, olhaste para mim como da primeira vez. Viraste costas e quando voltaste trouxeste uma bacia com água e um pano. Foste'me lavando e o sangue que me cobria ia sendo limpo. Sentia um suave perfume que me enchia a alma. No fim, limpaste'me o corpo e escovaste'me os cabelos. Colocaste em cima de mim uma manta suave que cheirava a bebé e deste'me um beijo na testa. Voltaste as costas e apagaste a luz. Depois?... Depois naquele vazio da escuridão disseste:
"Meu amor, só quero que morras bonita".